Estávamos cientes que a revolução digital um dia chegaria às nossas instituições de educação. Mas assim? Do dia para a noite? Não! Nenhum de nós envolvido com a Educação imaginou que a “educação de casa” chegaria assim tão rápido, de uma hora para a outra, de forma obrigatória devido à expansão do coronavírus.
Em todo mundo decretos governamentais fecham temporariamente as instituições educacionais na tentativa de conter a propagação da pandemia do COVID-19. Segundo a Unesco até final de março, cerca de 1,5 bilhões de alunos, crianças e jovens, estavam afastados das escolas e universidades ao redor de todo mundo. Não são férias e nem aulas canceladas, mas suspensas e necessidade de serem adaptadas à nova modalidade “a distância”, as quais, receberam várias nomenclaturas: EAD, atividades remotas, aulas programadas, aulas virtuais. Todos com o mesmo objetivo de permanecer conectados com os alunos em prol da sua aprendizagem.
As perspectivas apresentam-se sombrias, sabemos que uma crise também apresenta uma oportunidade para repensar nossas percepções da educação. Se pudermos enfrentar o desafio, poderemos aproveitar lições sobre como adaptar a aprendizagem para continuar em tempos difíceis e apoiar os alunos deslocados fisicamente de suas escolas.
Antes desta pandemia inúmeras eram as razões apontadas como sendo o problema da educação brasileira, seja os valores dos salários pagos aos professores, a indisciplina dos alunos, o índice das repetências, o analfabetismo ainda existente, a conclusão do ensino fundamental sem o domínio da leitura e da escrita, o ensino médio ruim, as deficiências e carências da escola pública , dentre outras. Estas críticas tão constantes e estão, por assim dizer, estavam impregnadas nas mentes dos brasileiros, sem questionar por que não conseguimos alcançar sucesso escolar mesmo com tantos investimentos em prol da qualidade da educação e vivendo numa sociedade informatizada, capitalista e globalizada.
A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da educação nacional, nº 9.394/96, situa o professor como eixo principal da qualidade da educação, apresentando a formação docente essencial para que a associação entre teoria e prática seja uma prática. De acordo com estudos anteriores à pandemia a concepção moderna de educador exige uma sólida formação científica, técnica e política, viabilizadora de uma prática pedagógica crítica e consciente da necessidade de mudanças na sociedade brasileira.
Todos estes discursos evaporaram no dia em que o aviso de “Ficar em casa” foi comunicado de uma forma tão rápida, assustando, preocupando e com muitas perguntas sem respostas. Mas uma pergunta não quer calar: educação pode parar assim? De repente foi tirado do professor a sua sala de aula, seu giz, seu quadro, sua interação com os alunos, seus abraços diários, seu convívio com colegas e aquele bate papo entre portas.
Após entendermos globalmente o que a pandemia trouxe ao cotidiano escolar, mais do que saber “o que” e “como” ensinar de casa, a qualidade da educação precisou da “atitude interna” do professor. Ensinar e aprender são processos naturais e relacionais – o coração e a mente do professor interagem com o coração e a mente do estudante.
Professor não é apenas o conhecimento de teorias, métodos e práticas pedagógicas, mas sim educação requer um professor sendo um currículo vivo que inspire um amor ao aprendizado, à sabedoria e ao conhecimento para toda a vida e o faz ao relacionar-se com cada educando individualmente.
Na prática o compromisso de cada educador é cultivar no aluno o espírito inquiridor, ensiná-lo a expressar adequadamente as suas ideias, a aprender com os erros, além de enfrentar obstáculos, levá-lo a acreditar em si e a descobrir seus talentos e potencialidades, despertando o desejo pelo saber. Assim, o professor com visão de futuro amplia o seu campo de ação educacional, o que proporciona ao aluno descobrir o funcionamento e o significado do que lhe é proposto, sabendo o porquê do ensinar e o porquê do aprender.
Este novo tempo requer do professor uma “atitude interna” para além do discurso, estar dispostos a ser currículos vivos na vida dos seus educandos apesar dos desafios de ensinar de casa com outras estratégias de ensino. Qualidade de ensino não é apenas sinônimo de presença física, mas também, qual é a minha disposição interna para adaptar-me a novas formas de ensinar sempre com o objetivo de relacionar-se com a aprendizagem dos meus educandos.
Howard Hendricks, em seu livro Ensinando para transformar vidas, apresenta três conceitos da essência da comunicação elaborada por Sócrates: ethos, pathos e logos. Ethos diz respeito à credibilidade do educador, suas credenciais. O quanto as pessoas acreditam em sua integridade e competência. Ele afirma que o jeito de ser do educador é mais importante do que o que diz ou faz, já que determina exatamente o que diz ou faz. Aquilo que é como pessoa é o fator que mais pesa na atuação. É preciso que confiem no educador, e, quanto mais confiarem, melhor este conseguirá comunicar o que deseja. Pathos refere-se ao lado empático, o modo como o educador desperta as emoções e os sentimentos de seus educandos, e logos denota o conteúdo programático, a parte lógica, pensada da comunicação, a apresentação da argumentação.
O interesse principal do educador não deve ser apenas a transmissão, mas sim o quanto influencia seus educandos. Além de palavras, os educandos precisam perceber a vivência, a emoção, o sentimento do que está sendo ensinado, em suma, o que é dito precisa estar em harmonia com o que é vivenciado. Hendricks reforça que, para haver ensino eficiente, é necessário que o educador seja uma pessoa transformada, quanto mais sua vida for transformada, mais transformações serão efetuadas nos outros por seu intermédio.
Que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê o espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele; sendo iluminados os olhos do vosso entendimento. Efésios 1:17-18
Dra. Monica Pinz Alves
Professora da Faculdade Batista Pioneira