Um novo ano, um novo mês, um novo dia! Um ciclo que se repete. Como um piscar de olhos chega o mês de Setembro, marcado por datas importantes para a população brasileira, bem como por motivos para reflexões. A campanha “Setembro Amarelo” e o “Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio” (que acontece no dia 10 deste mês) lembram uma tragédia que não pode ficar invisível. Conforme a Associação Brasileira de Psiquiatria, todos os anos são registrados cerca de 12 mil suicídios no Brasil e mais de 1 milhão no mundo. Trata-se de uma triste realidade que registra cada vez mais casos, principalmente entre os jovens. Um dado interessante a ser observado é que 96,8% dos casos de suicídio estavam relacionados a transtornos mentais. Em primeiro lugar está a depressão, seguida do transtorno bipolar e do abuso de substâncias. Em geral, os transtornos mentais são diversos sintomas que geram angústias ou incapacidade na vida pessoal, social ou profissional.

Todavia, será que só o mês chamado de Amarelo nos leva a refletir sobre o número gritante de pessoas que tentam ou cometem suicídio? Surgem outros pontos de interrogação, como: Será que o cristão deveria preocupar-se com isso? Independente da sua resposta, com certezas ou não, é importante analisarmos o assunto.

A vida é um precioso dom de Deus e preservá-la é um impulso natural do ser humano. É de se esperar que o sujeito cuide da própria saúde, alimente-se bem e se proteja de acidentes. O instinto de preservar a vida faz parte das necessidades básicas; entretanto, não deve ser uma preocupação doentia ou egocêntrica.

Embora o suicídio seja visto como algo horrível, o número de casos se multiplica com a velocidade de uma epidemia. Infelizmente ainda existe uma grande resistência quanto a esta luta da prevenção: durante séculos, por razões morais, culturais e religiosas, o suicídio foi considerado o pior dos pecados. De certa forma, ainda há medo e vergonha em falar abertamente sobre este assunto e, com isso, muitos cristãos sentem-se desamparados e envergonhados, pois à semelhança de outros problemas de saúde mental, a depressão e o cansaço não são assuntos mencionados em muitas igrejas. Quando expressos, parecem ser escandalosos ou então repreendidos como pecado. Não é à toa que muitos cristãos (incluindo os líderes) não procuram ajuda, pois quando fazem isso a situação parece ficar ainda mais constrangedora.

Infelizmente há muitas histórias de grandes líderes cristãos cujo final foi triste, na ânsia de encontrar alívio. De acordo com o Instituto Schaeffer, estudos apontam que 70% dos líderes lutam contra alguma fragilidade, e o mesmo percentual afirma que não tem mentoria, discipulado ou um amigo próximo. A realidade não é tão deslumbrante, pois assim como médicos precisam de médicos, psicólogos de psicólogos, cristãos e líderes também precisam de cuidados, de pessoas que os ouçam e os entendam. Muitos estão sofrendo calados enquanto cuidam dos outros. Além disso, nunca é previsível que um médico cardiologista tenha um problema de coração, e quando isto acontece gera surpresa. Ainda assim, o médico também é um ser humano, um sujeito exposto a enfermidades e que necessita de cuidados. O mesmo é válido para os cristãos e seus líderes, que também são criaturas de Deus, sujeitas às mesmas fragilidades enfrentadas por qualquer outra pessoa.

Spurgeon afirma que “Cuidamos das doenças do corpo muito prontamente. Elas são muito dolorosas para nos permitir dormir em silêncio e logo nos impelem a procurar um médico ou cirurgião para nos curar. Oh, quem dera fôssemos assim tão atentos em relação às mais sérias feridas de nosso homem interior”.

O questionamento principal é: Quem cuida dos cristãos, mesmo quando eles procuram achar uma saída e não a encontram? Um cristão precisa ter alguém para desabafar, pois é uma oportunidade de repartir o peso da alma. Há relatos de pessoas que sentem dificuldades em fazer isto, pois aparentemente a atitude soa como um pecado – afinal, é preciso ser grato a Deus por tudo. No entanto, nos relatos bíblicos há diversos desabafos que mostram a humanidade dos “personagens” bíblicos, que a partir daí passam pelo processo de resgate da própria identidade e integração.

Embora se saiba que ninguém aprecia tempos de crise, a Bíblia traz motivações muito claras para continuar preservando a vida, algo fundamental para que líderes sigam obedecendo ao seu chamado e sejam fortalecidos por outros líderes cristãos que possam ajudá-los e apoiá-los em todas as áreas da vida cristã. Pesquisas revelam que as pessoas que recebem algum apoio apresentam uma situação emocional muito melhor do que aquelas que têm de enfrentar seus problemas sozinhas.

Jesus sempre demonstrou amor, compaixão, cuidado e preocupação com o indivíduo e suas questões sociais, embora se dedicasse a pregar o evangelho e chamar o povo para o arrependimento. Nunca houve e nem haverá no mundo pessoa mais amável e cuidadora que Jesus. E, se estamos nEle, é o Seu exemplo que devemos seguir, uma vez que “aquele que afirma que está nele, também deve andar como ele andou” (1Jo 2.6). Seguindo o exemplo de Jesus, será que não podemos encontrar maneiras para cumprir a Grande Comissão e ao mesmo tempo cuidar de pessoas necessitadas, inclusive as que sofrem?

Paulo escreve em Romanos 12.5 que devemos nos alegrar com os que se alegram e chorar com os que choram. Enquanto não cultivarmos estes sentimentos não seremos capazes de ajudar, aliviando a dor e o sofrimento dos outros.

Jaqueline Bresch
Aluna do 4ª ano

______________________________________________________________________________

REFERÊNCIAS

BUHR, João Rainer. O sofrimento do pastor: um mal silencioso enfrentado por Paulo e por pastores até hoje. Curitiba: Esperança, 2017.
COLLINS, Gary R. Aconselhamento cristão: edição século 21. Trad. Lucília Marques Pereira da Silva. São Paulo: Vida Nova, 2004.
ESWINE, Zack. A depressão de Spurgeon: esperança realista em meio à angústia. São José dos Campos: Fiel, 2015.
LUTZER, Erwin. De pastor para pastor: respostas concretas para os problemas e desafios do ministério. Trad. Josué Ribeiro. São Paulo: Vida Nova, 1998.
NEVES, M. C. L., MELEIRO, A., SOUZA, F. G. M., SILVA, A. G., Corrêa, H. Suicídio: fatores de risco e avaliação, 51(1): 66-73. Brasília: Med 2014.