Não é novidade o fato de que o celular, embora seja um importante veículo de comunicação, tem gerado afastamento entre as pessoas. Nossa teimosia faz-nos insistir em permanecer sempre conectados, mesmo quando isto afeta nossos relacionamentos com aqueles que estão próximos de nós. Nos últimos anos, a atenção ao cônjuge, filhos e amigos tem concorrido com as constantes notícias ou informações que chegam por meio dos aplicativos e das redes sociais.
Agora, estamos enfrentando esse desafio do novo coronavírus e as recomendações dadas pelas autoridades é para que haja o chamado “isolamento social”. Escolas, universidades, igrejas e outras instituições onde há aglomeração de pessoas têm migrado suas atividades para encontros online. Sugere-se que até mesmo visitas, especialmente a pessoas idosas, sejam restritas. Viagens devem ser evitadas e, havendo condições, é melhor trabalhar em casa.
O que é irônico é que, se antes todos nós insistíamos em usar o celular a todo momento e desvalorizávamos as interações ao vivo, agora nos vemos privados do convívio dos amigos, tendo que usar ainda mais o celular para nos comunicarmos. Como normalmente acontece na vida, é apenas quando perdemos algo que começamos a dar a ele o devido valor. Basta não poder estar com alguém que amamos para percebermos o quanto esta pessoa é importante para nós. Basta não poder mais se reunir com os amigos ou com a igreja para perceber o quão importante é esse momento. Enfim, se antes acabávamos usando o celular mais do que deveríamos, agora teremos que usá-lo mais ainda sem que haja outra opção.
Como professor do ensino superior e pastor de igreja, tenho experimentado muitas mudanças na rotina de ambas as instituições. As aulas da faculdade onde leciono já estão sendo transmitidas online. Muitas atividades da igreja foram suspensas e possivelmente os cultos e encontros de oração também serão feitos de forma “virtual” (pelo menos temporariamente). Todas estas adaptações não estão sendo feitas por imposição de uma lei ou por obrigação, mas pelo entendimento de que precisamos dar o exemplo e também para zelar pela saúde de todos os nossos amados.
Por mais trágica e dolorosa que seja essa situação do novo coronavírus, percebo que há algo didático nisso tudo para todos nós. Acredito que esta situação nos tornará mais humildes, com mais consciência da nossa limitação como seres humanos. Para aqueles que creem na Bíblia, acredito que fortalecerão seu senso de dependência de Deus e aumentarão ainda mais a expectativa pela Eternidade, pelo Lar Eterno que Jesus tem preparado para aqueles que creem no seu sacrifício e na sua volta que se aproxima tão rapidamente.
Por fim, acredito que todos nós passaremos a valorizar ainda mais as pessoas que estão ao nosso lado. Talvez, depois desse período de isolamento, perceberemos mais claramente que o celular e todas as tecnologias, por melhores que sejam, não substituem um abraço e a atenção devidamente dispensada àqueles que amamos e estão próximos de nós. Que Deus nos ajude nesses tempos difíceis!
Gabriel Lauter
Professor e Coordenador de Extensão na Faculdade Batista Pioneira
Pastor da Igreja Batista Pioneira em Santa Bárbara do Sul
O peixe não se dá conta da água, até que o tirem de dentro dela.